ARCEBURGO - 1
– 05/0785 – a partida –
Dia
Arrumei minhas coisas para partir pensando em Marcelo e Mara. Eles eram meus colegas de faculdade que haviam se tornado muito meus amigos após alguns anos de convivência estudantil. Fora uma amizade natural, suave nunca forçada. Possuíam um barzinho embaixo das escadarias do centro acadêmico onde serviam comidas, sucos e lanches macrobióticos às vezes regados a cerveja, às vezes a licores especiais. Trabalhavam duro de segunda a sexta, apesar do horário restrito a poucas horas no almoço e no jantar, período entre as aulas que eles também freqüentavam. Sempre os via, no início das aulas, lavando suas louças e panelas em um tanque isolado.
Como resultado de seu árduo trabalho ao longo de alguns anos eles haviam comprado um sítio de seis hectares em algum lugar ao sul de Minas Gerais. Propriedade que tivera oportunidade de conhecer antes de receber o convite formal. Eles me convidaram para passar um mês por lá trabalhando como braçal em suas terras. Eles garantiriam minha comida, e teria um teto aonde dormir. Como pagamento por meu trabalho receberia parte da colheita de café que iríamos preparar.
E pensando em nossa história de amizade arrumava a mochila. A apreensão aumentando a cada instante. Uma sensação estranha de fuga. Precisava dar uma guinada em minha vida. Procurar uma alternativa de trabalho, definir, de uma vez por todas, o que fazia em relação a Fátima, em que área me especializaria na faculdade. Tinha mesmo que partir, não poderia tomar as decisões com clareza ficando em meio ao redemoinho.
Arrumei a mochila da melhor maneira possível, restringindo ao máximo o número de mudas de roupas, assim poderia levar alguns livros, o resto me arranjaria por lá. Liguei para a Fátima para me despedir, me despedi da família e parti. Peguei o metrô e quando cheguei à casa de Marcelo ele já me esperava carregando sua perua. Nos cumprimentamos e terminamos de carrega-la. Nos despedimos de sua família e fomos para a casa da Mara que nos esperava com outras coisas mais. Lá chegando repetimos o ritual de cumprimentos, carregamento e despedidas. Partimos levando nossas expectativas, acalentando nossos sonhos pessoais.
Noite
Sonhos que vem e que vão, noites atribuladas, cansativas, em uma cama que parecia ter milhões de quilômetros como o continente em que me encontrava sem ter consciência. Virava de um lado para o outro procurando a posição exata do corpo que me deixaria descansar. As expectativas invadindo os sonhos e misturando tudo, os desejos a insegurança de ser, os amores presentes, passados e futuros. Caleidoscópio fractal interminável, nunca repetitivo, diferente, igual, mas diferente, sempre diferente.
Carros rodando na rua, prostitutas se arrastando pelo asfalto e pela calçada com seu compasso marcado pelos saltos de sandálias sensuais. Percussão da música urbana, as vozes em gritos desesperados de amor, gritos agressivos de insultos, gritos suplicantes de perdão. O manto negro da noite fundindo-se à fuligem, à fumaça e ao cinza dos prédios alinhados nas ruas de asfalto negro.
Tudo se fundia em um êxtase sonoro e visual, era uma massa disforme palpável que me aconchegava no sono intermitente e me embalava para zonas mais profundas de meu ser.
Dia
Arrumei minhas coisas para partir pensando em Marcelo e Mara. Eles eram meus colegas de faculdade que haviam se tornado muito meus amigos após alguns anos de convivência estudantil. Fora uma amizade natural, suave nunca forçada. Possuíam um barzinho embaixo das escadarias do centro acadêmico onde serviam comidas, sucos e lanches macrobióticos às vezes regados a cerveja, às vezes a licores especiais. Trabalhavam duro de segunda a sexta, apesar do horário restrito a poucas horas no almoço e no jantar, período entre as aulas que eles também freqüentavam. Sempre os via, no início das aulas, lavando suas louças e panelas em um tanque isolado.
Como resultado de seu árduo trabalho ao longo de alguns anos eles haviam comprado um sítio de seis hectares em algum lugar ao sul de Minas Gerais. Propriedade que tivera oportunidade de conhecer antes de receber o convite formal. Eles me convidaram para passar um mês por lá trabalhando como braçal em suas terras. Eles garantiriam minha comida, e teria um teto aonde dormir. Como pagamento por meu trabalho receberia parte da colheita de café que iríamos preparar.
E pensando em nossa história de amizade arrumava a mochila. A apreensão aumentando a cada instante. Uma sensação estranha de fuga. Precisava dar uma guinada em minha vida. Procurar uma alternativa de trabalho, definir, de uma vez por todas, o que fazia em relação a Fátima, em que área me especializaria na faculdade. Tinha mesmo que partir, não poderia tomar as decisões com clareza ficando em meio ao redemoinho.
Arrumei a mochila da melhor maneira possível, restringindo ao máximo o número de mudas de roupas, assim poderia levar alguns livros, o resto me arranjaria por lá. Liguei para a Fátima para me despedir, me despedi da família e parti. Peguei o metrô e quando cheguei à casa de Marcelo ele já me esperava carregando sua perua. Nos cumprimentamos e terminamos de carrega-la. Nos despedimos de sua família e fomos para a casa da Mara que nos esperava com outras coisas mais. Lá chegando repetimos o ritual de cumprimentos, carregamento e despedidas. Partimos levando nossas expectativas, acalentando nossos sonhos pessoais.
Noite
Sonhos que vem e que vão, noites atribuladas, cansativas, em uma cama que parecia ter milhões de quilômetros como o continente em que me encontrava sem ter consciência. Virava de um lado para o outro procurando a posição exata do corpo que me deixaria descansar. As expectativas invadindo os sonhos e misturando tudo, os desejos a insegurança de ser, os amores presentes, passados e futuros. Caleidoscópio fractal interminável, nunca repetitivo, diferente, igual, mas diferente, sempre diferente.
Carros rodando na rua, prostitutas se arrastando pelo asfalto e pela calçada com seu compasso marcado pelos saltos de sandálias sensuais. Percussão da música urbana, as vozes em gritos desesperados de amor, gritos agressivos de insultos, gritos suplicantes de perdão. O manto negro da noite fundindo-se à fuligem, à fumaça e ao cinza dos prédios alinhados nas ruas de asfalto negro.
Tudo se fundia em um êxtase sonoro e visual, era uma massa disforme palpável que me aconchegava no sono intermitente e me embalava para zonas mais profundas de meu ser.


2 Comments:
Uau!Trilhas rurais agora...rs.
Não sei porque demorei tanto pra vir...não demore muito pra continuar,fiquei curioso para ver onde essa plantação vai dar!
Lisonjeada fiquei com o link...
Quanto ao texto.... adorei... cansado do asfalto, partes, rumo a textura da terra e ao cheiro, não mais de chuva sobre concreto, mas o puro odor de água caindo sobre terra. Delicioso cheiro... terra molhada...
Beijos.
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