URBE - 31
OUTONO
As formas belas, as formas feias, as desconcertantes formas. Sempre me interessei em saber o que determinava as formas dos objetos apreendidos por minha percepção. A realidade de descontar um cheque, um número para cada registro, um saldo para cada conta. Uma vela acesa em meio a tantas lâmpadas, perturbava-se a qualquer movimento sua chama. Como um espírito maléfico ela veio carregando sua fúria, excluiu minha música, criou um vento forte, quase apagou a vela, sua chama trêmula. Inquietou meu espírito e saiu levando seu ódio acumulado e o vento do sul. Aos poucos a normalidade do equilíbrio se restituiu em meu coração. Registrei a falsidade e a relatividade das coisas. O álcool misturou-se novamente à fumaça do cigarro. Apenas o vibrar tênue da porta batida em minha cara se deixava ouvir ecoando em algum lugar de minha mente.
Deitei-me no chão e relaxei profundamente controlando minha respiração. Inspirava, retinha o ar, expirava e retinha o diafragma contraído com pouco ar nos pulmões. Cada ato no mesmo intervalo de tempo, contava cada segundo concentrando-me apenas na respiração. Senti o corpo fundindo-se à terra até perder a identidade de ser. Passei a não-ser em etapas lentas e perceptíveis. Não me convenci, não adotei posições descartei todas as opiniões prévias. Poderia enganar-me por isso recuei a realidade da percepção. Qual a escolha certa? Como atingir a polipolaridade, sem antes ter experimentado a dualidade infinita? Mergulhei na solidão absoluta de estar presente neste universo sem fim. Senti o metal frio a passar pelos lábios.


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