URBE - 29
O ruído dos bares misturava-se ao ruído da rua em perfeita desarmonia. O riso feito em casa, a amizade alcoólica, falsos abraços. O brilho frio dos carros, sorriso metálico de seus ocupantes. Os intelectuais à porta do cine. O guarda-carros, gorro rasgado, tênis furado, contava, displicente, seus trocados noturnos. O papo a caminho do carro, a política, os candidatos, o FMI, a reflexão prematura do Godard recém assistido. Todos bem informados pelas falsas informações civilizadas.
O aroma de monóxido de carbono misturou-se à parafernália sonora das complexas máquinas rolantes. Abrindo a janela verifiquei que o cinza ainda permanecia. Certifiquei-me que no térreo a calçada existia. Limpei a mente com água fria afastando a irrealidade da noite anterior. Monólogo a dois, a três, a quatro, falávamos sem nos importar em ouvir. O fervilhar do entardecer, os últimos raios solares confundindo-se com as luzes superficiais da civilização. E novamente a noite. A noite, sempre a noite.
Os sinos bateram, o sol forte queimou minha face e o suor correu para os olhos no fim do dia. A fumaça penetrava por meu nariz e boca alojando-se nos pulmões, daí para a circulação e finalmente chegando ao cérebro. A roupa grudando no corpo e o cheiro de gasolina prenunciando a noite que começava a me cobrir com seu manto. E o pé a pressionar o acelerador, a máquina ganhando velocidade. A autopista cruzava a cidade dividindo-a em perfeita assimetria. E o calor envolvia todo meu ser fazendo-me pensar que não mais era do que a brisa quente que permeava a cidade naquela noite que parecia não ter mais fim.
Desintegrando-me no delírio, encontrei entre uma ou duas linhas que deixara em branco a ancora da realidade urbana. Não fugi das idéias acessórias. Repeti idéias sem pormenores e não mantive conexões entre os núcleos. Não abreviei a clareza de exposição em frases curtas, não citei outros autores e usei palavras vulgares, fui natural e objetivo em minha análise. Dominei completamente o fundo e a forma complementares do texto, refletindo e introduzindo a apresentação da análise desenvolvida, fechando e concluindo. Foi assim que naquele dia pedi demissão, da vida.
O aroma de monóxido de carbono misturou-se à parafernália sonora das complexas máquinas rolantes. Abrindo a janela verifiquei que o cinza ainda permanecia. Certifiquei-me que no térreo a calçada existia. Limpei a mente com água fria afastando a irrealidade da noite anterior. Monólogo a dois, a três, a quatro, falávamos sem nos importar em ouvir. O fervilhar do entardecer, os últimos raios solares confundindo-se com as luzes superficiais da civilização. E novamente a noite. A noite, sempre a noite.
Os sinos bateram, o sol forte queimou minha face e o suor correu para os olhos no fim do dia. A fumaça penetrava por meu nariz e boca alojando-se nos pulmões, daí para a circulação e finalmente chegando ao cérebro. A roupa grudando no corpo e o cheiro de gasolina prenunciando a noite que começava a me cobrir com seu manto. E o pé a pressionar o acelerador, a máquina ganhando velocidade. A autopista cruzava a cidade dividindo-a em perfeita assimetria. E o calor envolvia todo meu ser fazendo-me pensar que não mais era do que a brisa quente que permeava a cidade naquela noite que parecia não ter mais fim.
Desintegrando-me no delírio, encontrei entre uma ou duas linhas que deixara em branco a ancora da realidade urbana. Não fugi das idéias acessórias. Repeti idéias sem pormenores e não mantive conexões entre os núcleos. Não abreviei a clareza de exposição em frases curtas, não citei outros autores e usei palavras vulgares, fui natural e objetivo em minha análise. Dominei completamente o fundo e a forma complementares do texto, refletindo e introduzindo a apresentação da análise desenvolvida, fechando e concluindo. Foi assim que naquele dia pedi demissão, da vida.


