URBE - 33
PRIMAVERA
O dia estava calmo, o sol aquecia cada vez mais o cimento e as pessoas que se deslocavam sob seus raios. A preguiça tomava conta da cidade e ninguém podia pensar. Minha cabeça parecia prestes a estourar e a realidade do sonho da noite anterior ainda me perturbava o espírito. Sentia a mesma sensação apesar de não me encontrar entre as pessoas que me cercavam durante a noite, durante o sonho. A clareza das ações que praticara me deixou perplexo. Procurei decifrar a seqüência de imagens e atos que presenciara. Experimentei em mim o que teorizara, a mistura entre sonho e realidade. Não poderia descrevê-la então. A resolução de objetivos imediatos não foi integral, deixando transparecer falhas. Não era o calor que me fazia delirar. Fazia-me delirar o interminável fluxo de energia que se desordenava na grande cidade.
A lentidão da turba congestionando o fluir das máquinas, as mentes alteradas não distinguindo a realidade camuflada. O cair da tarde aumentando seus recursos. A luz real, os gestos, sentimentos substituídos pelo artificial. O desabafo da noite anterior e o acordar transportando-me a esse mundo mesclado de realidade e sonho mais uma vez. A chuva que banhava meu corpo parecia, a cada pingo, mais distante. Os carros que avançavam em lenta procissão eram uma agressão constante a minha mente. E o vento que me permeava trazia e levava tudo de mim.


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