ARCEBURGO - 16
– 29/07/85 –
Dia
Nesse dia, após o ritual de regar as plantas, de pegar o leite no curral e de tomar o café da manhã juntos, nos dividimos. Fui trabalhar com o pai de Mara no tanque que ficaria pronto no final do dia. Marcelo foi até a cidade para providenciar as coisas para fazer um churrasco e convidar os vizinhos no dia seguinte. Mara dedicou-se como sempre aos afazeres domésticos, era nossa provedora de alimento sem parar, além disso, o jardim e a casa estavam visivelmente modificados desde que começara a trabalhar neles.
Misturei o cimento à areia a maior parte do dia, despejando o concreto onde o pai de Mara me indicava, ele acertava tudo com uma trave de madeira, um nivelador e muita paciência. Trabalhamos sem parar até a hora do almoço quando chegou Marcelo. As compras feitas, os convites também. Marcelo ficou ajeitando as coisas para o dia seguinte na casa e depois se juntou a nós no tanque. Terminamos o trabalho um pouco mais tarde que os demais dias. Exaustos contemplamos o resultado e ficamos satisfeitos com nosso desempenho.
Noite
Noite quente ar parado. Noite de paredes escuras e sons que vinham de algum lugar indefinido da casa. O arrastar de um móvel, os sussurros farfalhando o ar parado, quente. As paredes exudando, tornando sua textura pegajosa, morna. Borbulhas num aquário com seus peixes imóveis na noite quente de paredes escuras. Eles ocupavam a casa, eu também.
Não me preocupava, procurava não pensar a respeito. Nosso contato era através de sussurros incompreensíveis e arrastar de móveis, eventualmente um roçar de pele fugaz. Íamos e vínhamos pela casa absortos em nossos fazeres, concentrados totalmente, plenamente presentes naquilo que fazíamos. Universos paralelos que não se encontravam no infinito, as paralelas de Meissner. O triângulo esférico gravado no hemisfério esquerdo plotando posições relativas no espaço.
Dia
Nesse dia, após o ritual de regar as plantas, de pegar o leite no curral e de tomar o café da manhã juntos, nos dividimos. Fui trabalhar com o pai de Mara no tanque que ficaria pronto no final do dia. Marcelo foi até a cidade para providenciar as coisas para fazer um churrasco e convidar os vizinhos no dia seguinte. Mara dedicou-se como sempre aos afazeres domésticos, era nossa provedora de alimento sem parar, além disso, o jardim e a casa estavam visivelmente modificados desde que começara a trabalhar neles.
Misturei o cimento à areia a maior parte do dia, despejando o concreto onde o pai de Mara me indicava, ele acertava tudo com uma trave de madeira, um nivelador e muita paciência. Trabalhamos sem parar até a hora do almoço quando chegou Marcelo. As compras feitas, os convites também. Marcelo ficou ajeitando as coisas para o dia seguinte na casa e depois se juntou a nós no tanque. Terminamos o trabalho um pouco mais tarde que os demais dias. Exaustos contemplamos o resultado e ficamos satisfeitos com nosso desempenho.
Noite
Noite quente ar parado. Noite de paredes escuras e sons que vinham de algum lugar indefinido da casa. O arrastar de um móvel, os sussurros farfalhando o ar parado, quente. As paredes exudando, tornando sua textura pegajosa, morna. Borbulhas num aquário com seus peixes imóveis na noite quente de paredes escuras. Eles ocupavam a casa, eu também.
Não me preocupava, procurava não pensar a respeito. Nosso contato era através de sussurros incompreensíveis e arrastar de móveis, eventualmente um roçar de pele fugaz. Íamos e vínhamos pela casa absortos em nossos fazeres, concentrados totalmente, plenamente presentes naquilo que fazíamos. Universos paralelos que não se encontravam no infinito, as paralelas de Meissner. O triângulo esférico gravado no hemisfério esquerdo plotando posições relativas no espaço.
A árvore do conhecimento estendendo suas raízes para permitir que novas folhas se desenvolvessem a cada toque da luz solar. Rearranjo de poeira cósmica e energia estelar modelando corpos pelo planeta esquecido. O distanciamento vertiginoso da consciência de ser, da consciência de estar. Desvio energético que me confundia, que me consumia e a consciência diluindo-se no fluxo constante de um tempo imposto. Universo de regras ditadas, de opiniões formadas. Noite quente suor escorrendo. Noite distante e presente, mas sempre quente de paredes escuras e sons indefinidos se espalhando por tudo.

