ARCEBURGO - 13
– 24/0785 –
Dia
Começamos o dia com a fúria de sempre eu, Marcelo e Mara entregues a nossas tarefas matutinas. Tomamos café a partimos para o poço com o pai de Mara. Sua experiência de pedreiro nos orientaria no trabalho que tínhamos pela frente. Começamos o trabalho assim que ele acertou as medidas e esticou os barbantes de pedreiro demarcando até onde deveríamos acertar o barranco. Marcelo começou a trabalhar com a picareta retirando a terra. Esperei um pouco fumando um cigarro e em seguida comecei a jogar a terra para cima do barranco com a pá. Ele ia retirando a terra, cortando o barranco e seguindo o sentido horário, eu o seguia um pouco atrás para não atrapalhar fazendo movimentos pendulares com a pá e vendo a terra subir contra o céu azul completando sua trajetória até cair na parte de cima do barranco. Aos poucos começou a se formar um montículo de terra à margem do barranco.
Não sei bem porque o pai de Mara insistia em tirar sarro de mim. Não sei porque eu me enfurecia cada vez que ele fazia isso. Sentia uma raiva crescente e aumentava a força de lançamento da terra com a pá. Parei algumas vezes pensando em pulverizar seu crânio com a pá, mas desisti da idéia por acha-la estúpida. Ele devia ter suas razões e eu tentava de todo modo me concentrar no trabalho e não ligar. Concentrava toda minha consciência em meus músculos, em meu esqueleto que se movimentava e na trajetória da terra contra o céu azul. Assim trabalhamos no primeiro dia até a hora do almoço.
Almoçamos e acertamos nossas diferenças, o pai de Mara e eu. Se ele não me provocasse mais conservaria sua cabeça intacta, eu procuraria não ligar para as provocações eventuais dele. Voltamos ao barranco e retomamos a escavação. Minha pá zunia como uma máquina incansável em um ritmo constante. As picaretas cortavam o barranco alimentando o solo com a terra que eu enviaria rumo ao céu que não mais olhava. Apenas recolhia a terra com a pá e a arremessava para cima em uma parábola perfeita. Cada vez mais longe, cada vez mais alto. Assim terminamos mais um dia de trabalho árduo. Fui para meu banho ritual após o treino e contemplei o por de sol com meus olhos mais cansados que nunca.
Noite
E mais uma vez estávamos reunidos, ao redor da mesa, sem velas, por estar assim como um grupo de cirurgiões olhando para o espaço vazio. Como quem tem algo a consertar e ainda não entende. Pensávamos e falávamos tentando resolver aquilo que não admitíamos poder ser. A cada palavra, cada idéia, não fazíamos mais que negar a descoberta do quão necessárias eram nossas reuniões. Discernimos, então, o orgânico dentro do idealizado e percebemos que os pensamentos nada mais eram que um subproduto da matéria. O que não suportávamos era o majestoso ar de superioridade que pairava sobre nossos olhares frios e suportávamos menos a consciência de que em algum momento esse olhar nos pertencera, não entendendo como pudéramos assumir tal postura diante dos semelhantes.
Resolvemos então, por-nos a elucidar nossa situação para deixar claro que estávamos cada um por si e não dispostos a ceder espaço um ao outro. Duelávamos com a lâmina cortante das palavras, possantes setas lançadas por nossas cordas vocais e direcionadas por nossos egos. Utilizávamos a racionalidade como fuga completa de nossa ignorância, daquilo que poderia ser a realidade em si e fora de si. A um passo da auto-afirmação as colocações desconexas intercalavam-se e era difícil concretizar o retorno ao tema inicial, muito embora isso não fosse mais importante.
A punição existia uma vez que não aceitávamos que se apresentassem padrões que não os nossos. Modelagem do ser. Esculpíamos o não palpável como se fosse necessário explicar alguma coisa que não sabíamos. E lembráramos que outro dia ao olharmos para a parede oposta sobre nossas cabeças percebêramos a luminosidade que se misturava e sentimos que ela resultava da energia de um corpo latente, sutil, dentro do corpo mesmo que carregávamos. Um corpo energia, um corpo luz e víamos como os corpos de energia se misturavam numa profusão de luzes azuis, verdes, roxas ou intensas faíscas em suas superfícies quando se tocavam enquanto discutíamos.
Dia
Começamos o dia com a fúria de sempre eu, Marcelo e Mara entregues a nossas tarefas matutinas. Tomamos café a partimos para o poço com o pai de Mara. Sua experiência de pedreiro nos orientaria no trabalho que tínhamos pela frente. Começamos o trabalho assim que ele acertou as medidas e esticou os barbantes de pedreiro demarcando até onde deveríamos acertar o barranco. Marcelo começou a trabalhar com a picareta retirando a terra. Esperei um pouco fumando um cigarro e em seguida comecei a jogar a terra para cima do barranco com a pá. Ele ia retirando a terra, cortando o barranco e seguindo o sentido horário, eu o seguia um pouco atrás para não atrapalhar fazendo movimentos pendulares com a pá e vendo a terra subir contra o céu azul completando sua trajetória até cair na parte de cima do barranco. Aos poucos começou a se formar um montículo de terra à margem do barranco.
Não sei bem porque o pai de Mara insistia em tirar sarro de mim. Não sei porque eu me enfurecia cada vez que ele fazia isso. Sentia uma raiva crescente e aumentava a força de lançamento da terra com a pá. Parei algumas vezes pensando em pulverizar seu crânio com a pá, mas desisti da idéia por acha-la estúpida. Ele devia ter suas razões e eu tentava de todo modo me concentrar no trabalho e não ligar. Concentrava toda minha consciência em meus músculos, em meu esqueleto que se movimentava e na trajetória da terra contra o céu azul. Assim trabalhamos no primeiro dia até a hora do almoço.
Almoçamos e acertamos nossas diferenças, o pai de Mara e eu. Se ele não me provocasse mais conservaria sua cabeça intacta, eu procuraria não ligar para as provocações eventuais dele. Voltamos ao barranco e retomamos a escavação. Minha pá zunia como uma máquina incansável em um ritmo constante. As picaretas cortavam o barranco alimentando o solo com a terra que eu enviaria rumo ao céu que não mais olhava. Apenas recolhia a terra com a pá e a arremessava para cima em uma parábola perfeita. Cada vez mais longe, cada vez mais alto. Assim terminamos mais um dia de trabalho árduo. Fui para meu banho ritual após o treino e contemplei o por de sol com meus olhos mais cansados que nunca.
Noite
E mais uma vez estávamos reunidos, ao redor da mesa, sem velas, por estar assim como um grupo de cirurgiões olhando para o espaço vazio. Como quem tem algo a consertar e ainda não entende. Pensávamos e falávamos tentando resolver aquilo que não admitíamos poder ser. A cada palavra, cada idéia, não fazíamos mais que negar a descoberta do quão necessárias eram nossas reuniões. Discernimos, então, o orgânico dentro do idealizado e percebemos que os pensamentos nada mais eram que um subproduto da matéria. O que não suportávamos era o majestoso ar de superioridade que pairava sobre nossos olhares frios e suportávamos menos a consciência de que em algum momento esse olhar nos pertencera, não entendendo como pudéramos assumir tal postura diante dos semelhantes.
Resolvemos então, por-nos a elucidar nossa situação para deixar claro que estávamos cada um por si e não dispostos a ceder espaço um ao outro. Duelávamos com a lâmina cortante das palavras, possantes setas lançadas por nossas cordas vocais e direcionadas por nossos egos. Utilizávamos a racionalidade como fuga completa de nossa ignorância, daquilo que poderia ser a realidade em si e fora de si. A um passo da auto-afirmação as colocações desconexas intercalavam-se e era difícil concretizar o retorno ao tema inicial, muito embora isso não fosse mais importante.
A punição existia uma vez que não aceitávamos que se apresentassem padrões que não os nossos. Modelagem do ser. Esculpíamos o não palpável como se fosse necessário explicar alguma coisa que não sabíamos. E lembráramos que outro dia ao olharmos para a parede oposta sobre nossas cabeças percebêramos a luminosidade que se misturava e sentimos que ela resultava da energia de um corpo latente, sutil, dentro do corpo mesmo que carregávamos. Um corpo energia, um corpo luz e víamos como os corpos de energia se misturavam numa profusão de luzes azuis, verdes, roxas ou intensas faíscas em suas superfícies quando se tocavam enquanto discutíamos.


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