ARCEBURGO - 17
– 30/0785 –
Dia
Logo de manhã sentimos a excitação no ar. Fomos até o tanque antes de qualquer tarefa e colocamos o cano para enche-lo de água. Esperamos um pouco até haver água suficiente para lavarmos o fundo e as paredes. Drenamos a água suja pelo ladrão e voltamos para a casa para regar as mudas. Quando acabamos, ajeitamos tudo para o churrasco. Cadeiras, bancos, mesas pra fora, a churrasqueira emprestada, carnes condimentadas, carnes sem condimento, começamos a testar o bombeamento do chope. Quando terminamos tudo ainda era cedo para os primeiros convidados haverem chegado, por isso resolvi ir até a clareira e realizar um treino puxado que se estenderia pela floresta. Após três horas de intensos gritos e pancadas em árvores e pedras voltei exausto para a casa. O “homem das vacas” já estava por ali, tomando um chope e dando instruções para melhorar o braseiro. Os primeiros convidados começavam a chegar.
Não tive tempo de me lavar, logo me colocaram para tirar chopes e mais chopes para todos os que iam chegando. A cada jarra que tirava tomava um quarto, assim entrei a noite totalmente bêbado e tirando chopes até para quem não estava por lá. Às vezes alguém me trazia um pedaço de carne ou qualquer coisa para comer. Havia muitas pessoas, a maioria desconhecidas para mim. Bebi e continuei bebendo até que, como levado por um redemoinho, saí dali com uma caneca cheia, caminhei até a casa, lá encontrei uma pilha de sacos de arroz onde deitei meu corpo e derramei o último gole em minha boca.
Sons e aromas me chegavam embora eu não os pudesse arranjar em um quadro lógico. Estranhamente sabia, ou sentia, ou via de alguma forma diferente, todos os que iam e vinham pela casa e fora dela. Meu corpo totalmente inerte não respondia mais aos comandos de minha vontade. Tudo girava a uma velocidade vertiginosa e eu girava também. Girava minha mente indo e vindo como as pessoas. Sabia que me procuravam, ouvi dizerem meu nome, todos pareciam participar de uma grande brincadeira. Em determinado momento tentei avisa-los de que estava ali jogado sobre os sacos de arroz, mas meu corpo ainda não respondeu. Passarem-se alguns minutos antes que me encontrassem de boca aberta dormindo. Estranhamente estava dormindo, porém totalmente consciente do que acontecia. Via a todos embora estivesse de olhos fechados. Na verdade via a todos mesmo e inclusive a mim mesmo no centro da agitação totalmente desfalecido e roncando de boca aberta. Alguém teve a idéia de derramar uma caneca de chope em minha boca aberta garantindo que assim eu acordaria. De fato engasguei-me e acordei tossindo e colocando chope para fora pelo nariz.
Então fui arrastado até o tanque, pois eu era o único que ainda não o havia estreado. Jogaram-me dentro dele e quase arrebentei as pernas, pois não havia mais que trinta centímetros de água cobrindo o chão. Água gelada e cristalina que deixava refletir as estrelas, que refletia minha mente agora desperta. Como a noite que terminava aos poucos e as pessoas se foram até o amanhecer tardio.
Noite
Vou, não vou, vou, não vou. Vaivém desvairado me minha mente que não se fixa a nenhum ponto ou pensamento. Vertigem permanente ativando o enjôo que se transforma em náuseas como ondas indomáveis. A saliva que abunda e desce pela garganta seca. Cambaleio para fora da casa sinto o chão de terra batida caminho rápido tropeçando em tudo, tropeçando nas idéias. Um torrão de terra se desfaz sob meus pés e caio de encontro a terra seca. A poeira se levanta, meu estômago se contrai violentamente e em um urro visceral, primevo e selvagem sinto o líquido quente que sobe pelo esôfago queimando ácido. Vejo incrédulo o jato de líquido saindo de minha própria boca como se não fosse minha.
Gotejando suor e vômito permaneço de quatro arfando e esperando a próxima onda. Nova contração, novo grito, mais líquido quente queimando. E eu de quatro vomitando na noite escura. A cabeça ainda rodando, o corpo resfriando e os músculos retesados me fazendo tremer. Novo vômito, mais noite quente e líquido queimando. Antes do fim dessa outra contração e outro grito. Sinto-me um oceano de vômito fazendo com que as ondas expulsem o mal que se encontra em mim. Fazendo com que as ondas escavem a praia de meus desejos que escorrem pela terra feitos uma pasta disforme e fétida.
Param as contrações, a salivação cessou, resta um gosto amargo. Infinitamente amargo como a dor de uma ferida aberta na alma na noite dos tempos, talvez quando ainda era criança. Sento-me de pernas abertas e cabeça pendente, respiração entrecortada. Espantalho da noite deixando de pensar sentindo apenas que deveria me arrastar até um canto qualquer e me proteger para dormir. O sono com suas pesadas asas me arrastando para algum lugar que não quero. Isso é que é ressaca antes de acordar.
Dia
Logo de manhã sentimos a excitação no ar. Fomos até o tanque antes de qualquer tarefa e colocamos o cano para enche-lo de água. Esperamos um pouco até haver água suficiente para lavarmos o fundo e as paredes. Drenamos a água suja pelo ladrão e voltamos para a casa para regar as mudas. Quando acabamos, ajeitamos tudo para o churrasco. Cadeiras, bancos, mesas pra fora, a churrasqueira emprestada, carnes condimentadas, carnes sem condimento, começamos a testar o bombeamento do chope. Quando terminamos tudo ainda era cedo para os primeiros convidados haverem chegado, por isso resolvi ir até a clareira e realizar um treino puxado que se estenderia pela floresta. Após três horas de intensos gritos e pancadas em árvores e pedras voltei exausto para a casa. O “homem das vacas” já estava por ali, tomando um chope e dando instruções para melhorar o braseiro. Os primeiros convidados começavam a chegar.
Não tive tempo de me lavar, logo me colocaram para tirar chopes e mais chopes para todos os que iam chegando. A cada jarra que tirava tomava um quarto, assim entrei a noite totalmente bêbado e tirando chopes até para quem não estava por lá. Às vezes alguém me trazia um pedaço de carne ou qualquer coisa para comer. Havia muitas pessoas, a maioria desconhecidas para mim. Bebi e continuei bebendo até que, como levado por um redemoinho, saí dali com uma caneca cheia, caminhei até a casa, lá encontrei uma pilha de sacos de arroz onde deitei meu corpo e derramei o último gole em minha boca.
Sons e aromas me chegavam embora eu não os pudesse arranjar em um quadro lógico. Estranhamente sabia, ou sentia, ou via de alguma forma diferente, todos os que iam e vinham pela casa e fora dela. Meu corpo totalmente inerte não respondia mais aos comandos de minha vontade. Tudo girava a uma velocidade vertiginosa e eu girava também. Girava minha mente indo e vindo como as pessoas. Sabia que me procuravam, ouvi dizerem meu nome, todos pareciam participar de uma grande brincadeira. Em determinado momento tentei avisa-los de que estava ali jogado sobre os sacos de arroz, mas meu corpo ainda não respondeu. Passarem-se alguns minutos antes que me encontrassem de boca aberta dormindo. Estranhamente estava dormindo, porém totalmente consciente do que acontecia. Via a todos embora estivesse de olhos fechados. Na verdade via a todos mesmo e inclusive a mim mesmo no centro da agitação totalmente desfalecido e roncando de boca aberta. Alguém teve a idéia de derramar uma caneca de chope em minha boca aberta garantindo que assim eu acordaria. De fato engasguei-me e acordei tossindo e colocando chope para fora pelo nariz.
Então fui arrastado até o tanque, pois eu era o único que ainda não o havia estreado. Jogaram-me dentro dele e quase arrebentei as pernas, pois não havia mais que trinta centímetros de água cobrindo o chão. Água gelada e cristalina que deixava refletir as estrelas, que refletia minha mente agora desperta. Como a noite que terminava aos poucos e as pessoas se foram até o amanhecer tardio.
Noite
Vou, não vou, vou, não vou. Vaivém desvairado me minha mente que não se fixa a nenhum ponto ou pensamento. Vertigem permanente ativando o enjôo que se transforma em náuseas como ondas indomáveis. A saliva que abunda e desce pela garganta seca. Cambaleio para fora da casa sinto o chão de terra batida caminho rápido tropeçando em tudo, tropeçando nas idéias. Um torrão de terra se desfaz sob meus pés e caio de encontro a terra seca. A poeira se levanta, meu estômago se contrai violentamente e em um urro visceral, primevo e selvagem sinto o líquido quente que sobe pelo esôfago queimando ácido. Vejo incrédulo o jato de líquido saindo de minha própria boca como se não fosse minha.
Gotejando suor e vômito permaneço de quatro arfando e esperando a próxima onda. Nova contração, novo grito, mais líquido quente queimando. E eu de quatro vomitando na noite escura. A cabeça ainda rodando, o corpo resfriando e os músculos retesados me fazendo tremer. Novo vômito, mais noite quente e líquido queimando. Antes do fim dessa outra contração e outro grito. Sinto-me um oceano de vômito fazendo com que as ondas expulsem o mal que se encontra em mim. Fazendo com que as ondas escavem a praia de meus desejos que escorrem pela terra feitos uma pasta disforme e fétida.
Param as contrações, a salivação cessou, resta um gosto amargo. Infinitamente amargo como a dor de uma ferida aberta na alma na noite dos tempos, talvez quando ainda era criança. Sento-me de pernas abertas e cabeça pendente, respiração entrecortada. Espantalho da noite deixando de pensar sentindo apenas que deveria me arrastar até um canto qualquer e me proteger para dormir. O sono com suas pesadas asas me arrastando para algum lugar que não quero. Isso é que é ressaca antes de acordar.


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