quinta-feira, agosto 17, 2006

URBE - 10

Como?

Reagrupamento de seres, interminável seleção de espécies, a farsa da competição. Deriva continental, orogenia, epirogenia, lamentável lágrima de teu ser. Andando pelas ruas abatidas, tépidas, sujas longínquas lembranças esprilarizavam-se em minha mente inacabada. E eu pensava, não parava de pensar. Fragmentos estilizados, enquadrados e adequados a um discurso linear, mentiroso. A água a escorrer pelo crânio cansado, a cada instante de gotas de chuva, a cada instante de suor escorrendo pelo rosto. Projeções, introspecções absolutas dissolvidas na mente que eu pensava doentia libertava pelos sonhos sem sono. Sonhos da realidade paralela, aglutinação de neurônios, arranjo aleatório, acaso e fatalidade, livre pensar.

Despertar, não despertar, consciência, subconsciência. Rufar de um batimento cardíaco arrítmico, atemporal. A parede deslizando rápida ante meus olhos pelo túnel sem fim. Aonde levaria? Para onde iria? De onde viria? Ponto de partida, chegada ininterrupta. Passos, milhões de passos, bilhões de passos, pernas agitando, pés em um interminável roçar.

Acompanhei com os olhos cada passo da delicada valsa, o discreto roçar das alvas coxas nos falos disfarçados pelas calças grossas, inocência antecipada da noite anterior. Mudanças, novos atos, velhos costumes, contestação.